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A desesperança de Mariana

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O rompimento da barragem da Samarco cobriu de lama o que encontrou pela frente. Casas, árvores, animais de estimação ou não, plantações foram reduzidos a nada. Inundou o Rio Doce, matou peixes, envenenou águas. Uma tragédia monocromática. A paisagem arrasada foi pintada de marrom. Bento Rodrigues tragada pela lama é uma cidade de escombros. Os fantasmas daquele dia ainda perambulam na memória encapsulada pela lama seca.

Fantasmas que habitam as mentes de cada um que teve os sonhos despertados e a vida interrompida, antes do tempo. Não foi apenas a morte que interrompeu a vida. A justiça, até hoje não concluída, decreta a paralisação do que resta de esperança. A Vale do Rio Doce e a Samarco, em um termo de ajustamento de conduta, criaram a Fundação Renova com o objetivo de reparar os danos materiais, de implementar planos de saúde, construir novas casas, enfim curar as feridas profundas nas pessoas e na natureza.

Promessas, prorrogação de prazos alimentam a desesperança. Uma herança de destruição que só cresce. As doenças respiratórias aumentaram, além dos transtornos psíquicos e mentais, o uso de drogas e álcool e, os casos de câncer. Estudo da Fundação Getúlio Vargas aponta um crescimento significativo, a partir de 2017, de bronquites, pneumonias, abortos, febre amarela, malária e suicídios entre os atingidos.

A pandemia somada à demora na reparação é mais um fator de agravamento à saúde mental, apontada por um dos procuradores públicos de Minas Gerais. O quadro desolador agrava a situação de violência doméstica e a desagregação familiar. Se a saúde dos atingidos nestes cinco anos se deteriora, não é diferente com a saúde ambiental. Muitos dos metais presentes na lama possuem efeito cumulativo e permanecem presentes no solo e nas águas do Rio Doce. A ingestão de alimentos e de água contaminados ocasiona graves doenças ao longo do tempo.

A Renova trabalha com balões de ensaio alimentando falsas esperanças, paralisando obras e adiando soluções, agravando ainda mais o quadro de deterioração socioambiental. Enquanto isso, os verdadeiros responsáveis livram-se da responsabilização penal, contratando escritórios e advogados famosos que somam-se à ganância dos autores e, por meio de vultuosos honorários, prolongam o calvário e o sofrimento dos atingidos.

Os grandes crimes só não caem no esquecimento por que ano a ano são lembrados. Lembranças essas que permanecem vivas, não sucumbiram na lama. Os autores do crime, a exemplo da lama que atingiu o oceano e por lá se dilui, apostam que, com o passar do tempo, o mesmo ocorra com as lembranças de dor, de sofrimento e de privação.

A estratégia é desesperançar. Desesperança que permite que a empresa protele a reparação e, mesmo assim, continue operando com tecnologia obsoleta, pondo em risco outros tantos que, a exemplo também de Brumadinho, vivem no rastro da lama da mineração e da ganância do setor.

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